Apesar desse quadrinho ter uma crítica à nossa sociedade, ele consegue representar bem a historinha do Mito da Caverna, de Platão.
Filosofia e a Professora Flávia
quinta-feira, 29 de maio de 2014
Mito da Caverna [Quadrinho]
Mito da Caverna, de Platão [Em algumas palavras]
O mito da caverna faz referencia à mudança, tanto da experiencia pessoal, quanto dos princípios da construção do pensamento (mundo das ideias, etc).
Em Platão, o mundo é dividido em dois:
Mundo inteligível (fora da caverna) = ciência, e,
Mundo sensível (dentro da caverna) = opiniões.
No mundo sensível, se encontram as sombras, crença, ilusão, as coisas perecíveis (corruptíveis), objetos sensíveis (que são percebidos pelos sentidos), senso comum, etc, está aqui, os que ainda estão dentro da caverna.
No mundo inteligível, se tem as Ideias (o universal das coisas e, não somente pensamentos), objetos matemáticos, dialética, etc, o que está fora da caverna. Tudo isso se baseia no que é Perfeito, que Platão chama de Bem e de Uno.
O mito da caverna nos apresenta essas coisas, e, mostra a passagem da aquisição do conhecimento das coisas, e da percepção do BEM; primeiro se está na completa ignorância, só se vê as sombras e o eco, a saída dessa situação é dolorosa (aprender é doloroso e perceber que se estava em estado de ignorância, também, é doloroso), depois, vai-se se acostumando com o que é real (o mundo lá fora, o inteligível), e como isso não faz parte da vida dos companheiros, ainda presos, eles não conseguem conceber que seja possível a existem daquilo que ouvem, então, não acreditam, e o consideram louco.
Na figura (que eu coloquei junto do texto), mostra essa divisão desenhada, e, está mostrando, também, a escala de valorização, quanto mais baixo, menos importante é, ou seja, sombras < objetos sensíveis < objetos matemáticos (geometria) < ideias. Ilusão < crença < conhecimentos matemáticos < Dialética.
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terça-feira, 5 de junho de 2012
Filosofia em S. Tomás de Aquino
Flávia Olveira[1]
Para Santo Tomás de Aquino, na Suma
Teológica, questão um, que trata “do que é e do que abrange a doutrina
sagrada”, as ciências
[...] filosóficas, [são] pesquisadas
pela razão humana. [..., e que] o homem é por Deus ordenado a um fim que lhe
excede a compreensão racional [..., e que esse] fim deve ser previamente
conhecido pelos homens, [–] que para ele têm de ordenar as intenções e atos [...,
–] por divina revelação, [..., para que se tornem] conhecidas certas verdades
superiores à razão.[2]
Pois “[...] as outras [ciências, que não são a Doutrina Sagrada, têm suas
conclusões] pelo lume natural da razão
humana, que pode errar, e a possui esta [a Doutrina Sagrada] pela luz da ciência divina, que se não pode
enganar. [...]” [3]. Coloca, também, como a
filosofia é usada pela Doutrina Sagrada,
[...] importa que a razão humana preste serviços à
fé, [...] a doutrina sagrada até lança mão da autoridade dos filósofos, nos
assuntos em que pela razão natural puderam conhecer a verdade. [...] [4]
Ele acrescenta no artigo segundo, da
primeira questão, que “há dois gêneros de
ciências. Umas partem de princípios conhecidos à luz natural do intelecto, [...] outras provém de princípios conhecidos por
ciência superior [...]” [5]. Também coloca que, “os princípios de qualquer ciência, ou são
por si mesmos evidentes, ou se reduzem à evidência de alguma ciência superior
[...]” [6] onde os princípios da
filosofia provém da Doutrina Sagrada, e os princípios da Doutrina Sagrada
provém da Revelação.
Ele acrescenta que, “[...] cada ciência se ocupa com um só gênero de
objetos [...]” [7];
onde, que os assuntos tratados pela Doutrina Sagrada, são assuntos também
tratados pelas ciências filosóficas, como está na Suma Teológica, onde Santo
Tomás diz: “[...] a Doutrina Sagrada
trata dos anjos, das criaturas corpóreas e dos costumes humanos, se bem tais
assuntos respeitem a ciências filosóficas diversas. [...]” [8]
No artigo seis, da primeira questão,
Santo Tomás fala do “[...] conhecimento
próprio desta ciência [a filosofia] assenta
[...] em premissas naturais. [...]” [9]. Fala também que, para se
conhecer uma ciência “[...] é necessário,
[...] supor a essência do objeto,
[..., e que, o] objeto da ciência é o
assunto nela principalmente tratado.” [10] Continua que, “[...] idêntico objeto têm os princípios e toda a
ciência, por estar, a última [a filosofia], total e virtualmente, contida nos princípios. [...]” [11] Coloca que, “[...] em certas ciências filosóficas, se
demonstram verdades relativas a uma causa a partir dos seus efeitos, assumindo
o efeito em lugar da definição dessa causa.” [12] E, acrescenta
posteriormente sobre as ciências filosóficas:
Como as outras ciências não argumentam para provar
os seus princípios, mas, com estes, raciocinam para demonstrar outros pontos,
[...] cumpre, no entanto, considerar que as ciências filosóficas inferiores nem
provam os seus princípios, nem disputam contra aqueles que os negam, mas isto
deixam para a ciência superior. Porém, dentre elas, a suprema, a saber, a
Metafísica, discute contra quem lhe nega os princípios, se o adversário concede
algum ponto; mas, se nada concede, não se pode com ele discutir, bem que se lhe
possam refutar as objeções. [...] [13]
Então, Para Santo Tomás de Aquino a filosofia é uma ciência
baseada na razão humana, mas que, por conta dessa base ela é passível de erro,
pois a razão humana é limitada, por isso se torna necessário, para se tornar
uma ciência completa, a revelação, que não é passível de erro, pois a ciência
de Deus não possui erro. Para ele a
razão humana tem que estar a serviço da fé, então necessita da existência da Doutrina
Sagrada, que, por sua vez, se utiliza de argumentos da filosofia, não porque a
Doutrina Sagrada está abaixo da filosofia, mas pelo fato da ciência de Deus ter
uma linguagem que não é acessível a razão humana, se faz o uso da filosofia,
como instrumento, para clarear as verdades de fé. De fato, para Santo Tomás, a
razão humana alcança a verdade, mas não sem muito esforço e uma quantidade de
erro ou de limitação. A razão humana, por exemplo, pode chegar à unidade de
Deus, mas chega com equivoco e discordância entre os filósofos. Já aquele que
submete a razão a doutrina sagrada, alcança a unidade de Deus pela razão, mas
sabe que Ele é Uno e Trino. Acrescenta que, as ciências quando não “são por si
mesmas evidentes” [14],
então elas “se reduzem à evidencia de alguma ciência superior”. [15]
Como já foi dito, os assuntos tratados pela Doutrina
Sagrada, são assuntos também tratados pelas ciências filosóficas, e, tais
assuntos são sobre os anjos, sobre as “criaturas corpóreas” e os costumes
humanos. Onde as ciências filosóficas se assentam nas premissas naturais. Santo
Tomás acrescenta que, numa divisão da filosofia há ciências filosóficas
inferiores e ciências filosóficas superiores; as inferiores não se ‘preocupam’
em provar seus princípios, nem argumentam a favor de si, deixam isso para a
ciência superior, que o faz quando lhe cabe fazê-lo.
Portanto, Santo Tomás
define o que é filosofia é servir como instrumento da doutrina sagrada, de
fato, a filosofia tem sua plena realização com o alcance da verdade, e a
filosofia só pode alcançar tal coisa na medida em que se submete aos artigos de
fé.
[1] Trabalho entregue. Na Faculdade São Bento da Bahia, como obtenção parcial de nota do curso de Licenciatura em Filosofia. abril, 2012.
[2] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de
Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br,
acessado em: 11/03/2012. Q. 1, Artigo 1: Se, além das ciências filosóficas, é
necessário outra doutrina. Solução.
[3]
Ibidem. Art. 5: Se a Doutrina Sagrada é mais
digna que as outras ciências. Solução.
[4]
Ibidem. Art. 8: Se a Doutrina é argumentativa.
Resposta à segunda Objeção.
[5]
Ibidem. Art. 2: Se a doutrina Sagrada é
ciência. Solução.
[6]
Ibidem. Resposta á primeira Objeção.
[7]
Ibidem. Art. 3: Se a doutrina Sagrada é uma só
ciência. Objeção 1.
[8]
Ibidem. Objeção 2.
[9]
Ibidem. Art. 6: Se esta doutrina é sabedoria. Resposta à segunda Objeção.
[10]
Ibidem. Art. 7: Se Deus é o objeto desta
ciência. Objeção 1.
[11]
Ibidem. Solução.
[12]
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Volume I. 3ª Ed. Edições Loyola: São Paulo, 2001.
Resposta à primeira Objeção. Q. 1, Art. 7.
[13]
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br/,
acessado em: 11/03/2012. Solução. Q. 1, Artigo 8: Se esta doutrina é
argumentativa.
[14]
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br,
acessado em: 11/03/2012. Q. 1, Art 2. Solução.
[15]
Ibidem
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quarta-feira, 25 de abril de 2012
O Eu em Martin Buber
Primeira Parte
O mundo é duplo
para o homem, segundo a dualidade de sua atitude. A atitude do homem é dupla de
acordo com a dualidade das palavras-princípio que ele pode proferir.
As
palavras-princípio não são vocábulos isolados, mas pares de vocábulos.
Uma
palavra-princípio é o par Eu-Tu. A outra é o par Eu-Isso no qual, sem que seja
alterada a palavra-princípio, pode-se substituir Isso por Ele ou Ela.
Deste modo, o Eu
do homem é também duplo.
*
Pois, o Eu da
palavra-princípio Eu-Tu é diferente daquele da palavra princípio Eu-Isso.
As palavras-princípio
não exprimem algo que pudesse existir fora delas, mas uma vez proferidas elas
fundamentam uma existência.
As
palavras-princípio são proferidas pelo ser.
Se se diz Tu
profere-se também o Eu da palavra-princípio Eu-Tu. Se se diz Isso profere-se
também o Eu da palavra-princípio Eu-Isso. A palavra-princípio Eu-Tu só pode ser
proferida pelo ser na sua totalidade.
*
A
palavra-princípio Eu-Isso não pode jamais ser proferida pelo ser em sua totalidade.
Não há Eu em si,
mas apenas o Eu da palavra-princípio Eu-Tu e o Eu da palavra-princípio Eu-Isso.
Quando o homem diz
Eu, ele quer dizer um dos dois. O Eu ao qual se refere está presente quando ele
diz Eu. Do mesmo modo quando ele profere Tu ou Isso, o Eu de uma ou outra
palavra-princípio está presente.
Ser Eu, ou
proferir a palavra Eu são uma só e mesma coisa. Proferir Eu ou proferir uma das
palavras-princípio são uma ou a mesma coisa.
Aquele que profere
uma palavra-princípio penetra nela e aí permanece.
*
A vida do ser
humano não se restringe apenas ao âmbito dos verbos transitivos. Ela não se
limita somente às atividades que têm algo por objeto. Eu percebo alguma coisa.
Eu experimento alguma coisa, ou represento alguma coisa, eu quero alguma coisa,
ou sinto alguma coisa, eu penso em alguma coisa.
A vida do ser
humano não consiste unicamente nisto ou em algo semelhante.
Tudo isso e o que
se assemelha a isso fundam o domínio do Isso.
O reino do Tu tem,
porém, outro fundamento.
*
Aquele que diz Tu
não tem coisa alguma por objeto. Pois, onde há uma coisa há também outra coisa;
cada Isso é limitado por outro Isso; o Isso só existe na medida em que é
limitado por outro Isso. Na medida em que se profere o Tu, coisa alguma existe.
O Tu não se confina a nada.
Quem diz Tu não
possui coisa alguma, não possui nada. Ele permanece em relação.
*
Afirma-se que o
homem experiência o seu mundo2. O que isso significa? O homem explora a superfície
das coisas e as experiencia. Ele adquire delas um saber sobre a sua natureza e
sua constituição, isto é, uma experiência. Ele experiência o que é próprio às
coisas.
Porém, o homem não
se aproxima do mundo somente através de experiências.
Estas lhe
apresentam apenas um mundo constituído por Isso, Isso e Isso, de Ele, Ele e
Ela, de Ela e Isso.
Eu experiencio
alguma coisa.
Se acrescentarmos
experiências internas às externas, nada será alterado, de acordo com uma fugaz
distinção que provém do anseio do gênero humano em tornar menos agudo o
mistério da morte. Coisas internas, coisas externas, coisas entre coisas!
Eu experiencio uma
coisa.
E, por outro lado,
se acrescentarmos experiências "secretas" às experiências
"manifestas", nada será alterado de acordo com aquela sabedoria autoconfiante
que apreende nas coisas um compartimento fechado, reservado aos iniciados cuja
chave ela possui. Oh! Mistério sem segredo. Oh! Amontoado de informações! Isso,
Isso, Isso!
*
O experimentador
não participa do mundo: a experiência se realiza "nele" e não entre
ele e o mundo.
O mundo não toma
parte da experiência.
Ele se deixa
experienciar, mas ele nada tem a ver com isso, pois, ele nada faz com isso e
nada disso o atinge.
*
O mundo como
experiência diz respeito à palavra-princípio Eu-Isso. A palavra-princípio Eu-Tu
fundamenta o mundo da relação.
*
O mundo da relação
se realiza em três esferas. A primeira é a vida com a natureza. Nesta esfera a
relação realiza-se numa penumbra como aquém da linguagem. As criaturas movem-se
diante de nós sem possibilidade de vir até nós e o Tu que lhes endereçamos
depara-se com o limiar da palavra.
A segunda é a vida
com os homens. Nesta esfera a relação é manifesta e explícita: podemos
endereçar e receber o Tu.
A terceira é a
vida com os seres espirituais. Aí a relação, ainda que envolta em nuvens, se
revela, silenciosa, mas gerando a linguagem. Nós proferimos, de todo nosso ser,
a palavra-princípio sem que nossos lábios possam pronunciá-la.
Mas como podemos
incluir o inefável no reino das palavras-princípio?
Em cada uma das
esferas, graças a tudo aquilo que se nos torna presente, nós vislumbramos a
orla do Tu eterno, nós sentimos em cada Tu um sopro provindo dele, nós o
invocamos à maneira própria de cada esfera.
*
Eu considero uma
árvore.
Posso apreendê-la
como uma imagem. Coluna rígida sob o impacto da luz, ou o verdor resplandecente
repleto de suavidade pelo azul prateado que lhe serve de fundo.
Posso senti-la
como movimento: filamento fluente de vasos unidos a um núcleo palpitante,
sucção de raízes, respiração das folhas, permuta incessante de terra e ar, e
mesmo o próprio desenvolvimento obscuro.
Eu posso
classificá-la numa espécie e observá-la como exemplar de um tipo de estrutura e
de vida.
Eu posso dominar
tão radicalmente sua presença e sua forma que não reconheço mais nela senão a
expressão de uma lei — de leis segundo as quais um contínuo conflito de forças
é sempre solucionado ou de leis que regem a composição e a decomposição das
substâncias.
Eu posso
volatilizá-la e eternizá-la, tornando-a um número, uma mera relação numérica.
A árvore
permanece, em todas estas perspectivas, o meu objeto tem seu espaço e seu
tempo, mantém sua natureza e sua composição.
Entretanto pode
acontecer que simultaneamente, por vontade própria e por uma graça, ao observar
a árvore, eu seja levado a entrar em relação com ela; ela já não é mais um
Isso. A força de sua exclusividade apoderou-se de mim.
Não devo renunciar
a nenhum dos modos de minha consideração. De nada devo abstrair-me para vê-la,
não há nenhum conhecimento do qual devo me esquecer. Ao contrário, imagem e
movimento, espécie e exemplar, lei e número estão indissoluvelmente unidos
nessa relação.
Tudo o que
pertence à árvore, sua forma, seu mecanismo, sua cor e suas substâncias
químicas, sua "conversação" com os elementos do mundo e com as estrelas,
tudo está incluído numa totalidade.
A árvore não é uma
impressão, um jogo de minha representação ou um valor emotivo. Ela se apresenta
"em pessoa" diante de mim e tem algo a ver comigo e, eu, se bem que
de modo diferente, tenho algo a ver com ela.
Que ninguém tente
debilitar o sentido da relação: relação é reciprocidade.
Teria então a
árvore uma consciência semelhante à nossa? Não posso experienciar isso. Mas
quereis novamente decompor o indecomponível só porque a experiência parece ter
sido bem sucedida convosco? Não é a alma da árvore ou sua dríade que se
apresenta a mim, é ela mesma.
Trecho do Livro "Eu e Tu" de Martin Buber
...
Trecho do Livro "Eu e Tu" de Martin Buber
...
terça-feira, 24 de abril de 2012
Ética e Moral
Considerando a tensão de uma outra
dualidade, e ética e a moral. Talvez a etimologia das palavras ética e moral
iluminem essa complexidade.
Ethos - ética, em grego -
designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo para,
moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética,
como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano
está sempre tornando habitável a casa que construiu para si.
Ético
significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que
seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologicamente
integrada e espiritualmente fecunda.
Na
ética há o permanente e o mutável. O permanente é a necessidade do ser humano
de ter uma moradia: uma maloca indígena, uma casa no campo e um apartamento na
cidade. Todos estão envolvidos com a ética, porque todos buscam uma moradia
permanente.
O
mutável é o estilo com que cada grupo constrói sua morada. È sempre diferente:
rústico, colonial, moderno, de palha, de pedra... Embora diferente e mutável, o
estilo está a serviço do permanente: a necessidade de ter casa. A casa, nos
seus mais diferentes estilos, deverá ser habitável.
Quando
o permanente e o mutável se casam, surge uma ética verdadeiramente humana.
Moral, do latim mos, mores, designa
os costumes e as tradições. Quando um modo de se organizar a casa é considerado
bom a ponto de ser uma referência coletiva e ser reproduzido constantemente,
surge então uma tradição e um estilo arquitetônico. Assistimos, ao nível dos
comportamentos humanos, ao nascimento da moral.
Nesse
sentido, moral está ligada a costumes e a tradições específicas de cada
povo, vinculada a um sistema de valores, próprio de cada cultura e de cada
caminho espiritual.
Por sua
natureza, a moral é sempre plural. Existem muitas morais, tantas quantas
culturas e estilos de casa. A moral dos yanomamis é diferente da moral dos
garimpeiros. Existem morais de grupos dentro de uma mesma cultura: são diferentes
a moral do empresário, que visa o lucro, e a moral do operário, que procura o
aumento de salário. Aqui se trata da moral de classe. Existem as morais das
várias profissões: dos médicos, dos advogados, dos comerciantes, dos
psicanalistas, dos padres, dos catadores de lixo, entre outras. Todas essas
morais têm de estar a serviço da ética. Devem ajudar a tornar habitável a
moradia humana, a inteira sociedade e a casa comum, o planeta Terra.
Existem
sistemas morais que permanecem inalterados por séculos. São renovadamente
reproduzidos e vividos por determinadas populações ou regiões culturais. Assim,
a poligamia entre os árabes e a monogamia das culturas ocidentais. Por sua
natureza, a moral se concretiza como um sistema fechado.
De que forma se
articulam a ética e a moral? Respondemos simplesmente: a ética assume a moral,
quer dizer, o sistema fechado de valores vigentes e de tradições
comportamentais. Ela respeita o enraizamento necessário de cada ser humano na
realização de sua vida, para que não fique dependurada nas nuvens.
Mas a ética introduz
uma operação necessária: abre esse enraizamento. Está atenta às mudanças
históricas, às mentalidades e às sensibilidades cambiáveis, aos novos desafios
derivados das transformações sociais. Ela impõe exigências a fim de tornar a
moradia humana mais honesta e saudável. A ética acolhe transformações e mudanças
que atendam a essas exigências. Sem essa abertura às mudanças, a moral se
fossiliza e se transforma em moralismo.
A ética, portanto,
desinstala a moral. Impede que ela se feche sobre si mesma. Obriga-a à
constante renovação no sentido de garantir a “habitabilidade” e a
sustentabilidade da moradia humana: pessoal, social e planetária.
Concluindo, podemos
dizer: a moral representa um conjunto de atos, repetidos,
tradicionais, consagrados. A ética corporifica um conjunto de atitudes que
vão além desses atos. O ato é sempre concreto e fechado em si mesmo. A atitude
é sempre aberta à vida com suas incontáveis possibilidades. A ética nos
possibilita a coragem de abandonar elementos obsoletos das várias morais. Confere-nos
a ousadia de assumir, com responsabilidade, novas posturas, de projetar novos
valores, não por modismo, mas como serviço à moradia humana.
Não basta sermos
apenas morais, apegados a valores da tradição. Isso nos faria moralistas e
tradicionalistas, fechados sobre o nosso sistema de valores. Cumpre também
sermos éticos, quer dizer, abertos a valores que ultrapassam aqueles do
sistema tradicional ou de alguma cultura determinada. Abertos a valores que
concernem a todos os humanos, como a preservação da casa comum, o nosso
esplendoroso planeta azul-branco. Valores do respeito à dignidade do corpo, da
defesa da vida sob todas as suas formas, do amor à verdade, da compaixão para
com os sofredores e os indefesos. Valores do combate à corrupção, à violência e
à guerra. Valores que nos tornam sensíveis ao novo que emerge, com
responsabilidade, seriedade e sentido de contemporaneidade.
Há pessoas que
insistem em morar em suas casas antigas, sem delas cuidar e sem adaptá-las às
novas necessidades. Elas deixam de ser o que deveriam ser: aconchegantes,
protetoras e funcionais. É a moral desgarrada da ética. A ética convida a
reformar a casa para torná-la novamente calorosa e útil como habitação humana.
Como o filósofo grego Heráclito dizia: "a ética é o anjo protetor do ser
humano".
Por essa atitude ética,
os atos morais acompanham a dinâmica da vida. A moral deve
renovar-se permanentemente sob a orientação e a hegemonia da ética. Cabe à
ética garantir a moradia humana, sob diferentes estilos, para que seja efetivamente
habitável.
*Texto retirado do Livro "A águia e a galinha" de
Leonardo Boff. Ed. Vozes - Págs. 90-96
.
Significado de Ética e Moral
O que é Ética e Moral:
Ética é um conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em
relação aos outros homens na sociedade em que vive, e moral é o conjunto de
normas que regulam o comportamento do homem em sociedade. Existe uma grande
confusão entre as palavras ética e moral, sendo que ética é um termo de origem
grega, e moral de origem latina.
A moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a sua própria
consciência moral, que é o que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em
que vive, enquanto a ética surgiu com Sócrates, que é a disciplina que
investiga e explica as normas morais, o que leva o homem a agir não só por
tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência.
Ética
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A
palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter.
Ética é diferente de moral, pois moral se fundamenta na obediência a normas,
costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos e a ética, busca fundamentar
o modo de viver pelo pensamento humano.
Moral
Moral significa algo relativo aos costumes e deriva do latim, moral se
originou quando os romanos traduzirem a palavra grega êthica. A moral
encontra-se com a ética, pois a suporta, uma vez que não existem costumes ou
hábitos sociais completamente separados de uma ética individual. Para alguns
dicionários, moral é um conjunto de regras de conduta consideradas como
válidas, éticas, servem para qualquer tempo ou lugar, grupos ou indivíduos.
sábado, 21 de abril de 2012
O que é filosofia afinal? Etimologia.

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Eros |
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Pitágoras |
É comumente conhecido que o primeiro a usar a palavra filosofia foi Pitágoras, "que certa vez, ouvindo alguém chamá-lo sábio e considerando esse nome muito elevado para si mesmo, pediu que o chamassem simplesmente filósofo, isto é, amigo da sabedoria" 4.
1 - MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Tradução Benôni Lemos. Coleção Filosofia. Vol. 1. São Paulo: Paulus, 1981. p. 7.
2 - Cf. CARTA ENCÍCLICA DEUS CARITAS EST. Deus é Amor. Sobre o Amor Cristão. Papa Bento XVI. ponto 7.
3 - Ibidem, ponto 3.
4 - MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Tradução Benôni Lemos. Coleção Filosofia. Vol. 1. São Paulo: Paulus, 1981. p. 7.
Filosofia/Filosofar
Quando se é criança, chega um momento que nós começamos a pensar.

A filosofia em seu princípio é isso. A procura do saber, e o amor a esse saber. Não um saber que aceita as coisas prontas. Um saber que aprende e, questiona o que foi aprendido. Quer saber o que são as coisas, o porque delas, até mesmo sua finalidade, de onde elas surgiram. A filosofia não pode e não deve parar no "é isso...", tem que continuar, não se contentar, sempre procurar saber mais, sem ficar na superficialidade. Tem de ir até o mais profundo do tema. Pra poder fazer essa caminha à profundidade, tem que haver algo que a torne aceitável à maioria das pessoas, então não pode ser algo que só minha família conhece, só o que meus amigos conhecem, só minha geração conhece, até mesmo o que somente eu conheço, precisa de um caminho comum à todas as famílias, à todas as sociedades, à todos os tempos; um caminho que seja rigoroso, radical e universal.
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