Flávia Olveira[1]
Para Santo Tomás de Aquino, na Suma
Teológica, questão um, que trata “do que é e do que abrange a doutrina
sagrada”, as ciências
[...] filosóficas, [são] pesquisadas
pela razão humana. [..., e que] o homem é por Deus ordenado a um fim que lhe
excede a compreensão racional [..., e que esse] fim deve ser previamente
conhecido pelos homens, [–] que para ele têm de ordenar as intenções e atos [...,
–] por divina revelação, [..., para que se tornem] conhecidas certas verdades
superiores à razão.[2]
Pois “[...] as outras [ciências, que não são a Doutrina Sagrada, têm suas
conclusões] pelo lume natural da razão
humana, que pode errar, e a possui esta [a Doutrina Sagrada] pela luz da ciência divina, que se não pode
enganar. [...]” [3]. Coloca, também, como a
filosofia é usada pela Doutrina Sagrada,
[...] importa que a razão humana preste serviços à
fé, [...] a doutrina sagrada até lança mão da autoridade dos filósofos, nos
assuntos em que pela razão natural puderam conhecer a verdade. [...] [4]
Ele acrescenta no artigo segundo, da
primeira questão, que “há dois gêneros de
ciências. Umas partem de princípios conhecidos à luz natural do intelecto, [...] outras provém de princípios conhecidos por
ciência superior [...]” [5]. Também coloca que, “os princípios de qualquer ciência, ou são
por si mesmos evidentes, ou se reduzem à evidência de alguma ciência superior
[...]” [6] onde os princípios da
filosofia provém da Doutrina Sagrada, e os princípios da Doutrina Sagrada
provém da Revelação.
Ele acrescenta que, “[...] cada ciência se ocupa com um só gênero de
objetos [...]” [7];
onde, que os assuntos tratados pela Doutrina Sagrada, são assuntos também
tratados pelas ciências filosóficas, como está na Suma Teológica, onde Santo
Tomás diz: “[...] a Doutrina Sagrada
trata dos anjos, das criaturas corpóreas e dos costumes humanos, se bem tais
assuntos respeitem a ciências filosóficas diversas. [...]” [8]
No artigo seis, da primeira questão,
Santo Tomás fala do “[...] conhecimento
próprio desta ciência [a filosofia] assenta
[...] em premissas naturais. [...]” [9]. Fala também que, para se
conhecer uma ciência “[...] é necessário,
[...] supor a essência do objeto,
[..., e que, o] objeto da ciência é o
assunto nela principalmente tratado.” [10] Continua que, “[...] idêntico objeto têm os princípios e toda a
ciência, por estar, a última [a filosofia], total e virtualmente, contida nos princípios. [...]” [11] Coloca que, “[...] em certas ciências filosóficas, se
demonstram verdades relativas a uma causa a partir dos seus efeitos, assumindo
o efeito em lugar da definição dessa causa.” [12] E, acrescenta
posteriormente sobre as ciências filosóficas:
Como as outras ciências não argumentam para provar
os seus princípios, mas, com estes, raciocinam para demonstrar outros pontos,
[...] cumpre, no entanto, considerar que as ciências filosóficas inferiores nem
provam os seus princípios, nem disputam contra aqueles que os negam, mas isto
deixam para a ciência superior. Porém, dentre elas, a suprema, a saber, a
Metafísica, discute contra quem lhe nega os princípios, se o adversário concede
algum ponto; mas, se nada concede, não se pode com ele discutir, bem que se lhe
possam refutar as objeções. [...] [13]
Então, Para Santo Tomás de Aquino a filosofia é uma ciência
baseada na razão humana, mas que, por conta dessa base ela é passível de erro,
pois a razão humana é limitada, por isso se torna necessário, para se tornar
uma ciência completa, a revelação, que não é passível de erro, pois a ciência
de Deus não possui erro. Para ele a
razão humana tem que estar a serviço da fé, então necessita da existência da Doutrina
Sagrada, que, por sua vez, se utiliza de argumentos da filosofia, não porque a
Doutrina Sagrada está abaixo da filosofia, mas pelo fato da ciência de Deus ter
uma linguagem que não é acessível a razão humana, se faz o uso da filosofia,
como instrumento, para clarear as verdades de fé. De fato, para Santo Tomás, a
razão humana alcança a verdade, mas não sem muito esforço e uma quantidade de
erro ou de limitação. A razão humana, por exemplo, pode chegar à unidade de
Deus, mas chega com equivoco e discordância entre os filósofos. Já aquele que
submete a razão a doutrina sagrada, alcança a unidade de Deus pela razão, mas
sabe que Ele é Uno e Trino. Acrescenta que, as ciências quando não “são por si
mesmas evidentes” [14],
então elas “se reduzem à evidencia de alguma ciência superior”. [15]
Como já foi dito, os assuntos tratados pela Doutrina
Sagrada, são assuntos também tratados pelas ciências filosóficas, e, tais
assuntos são sobre os anjos, sobre as “criaturas corpóreas” e os costumes
humanos. Onde as ciências filosóficas se assentam nas premissas naturais. Santo
Tomás acrescenta que, numa divisão da filosofia há ciências filosóficas
inferiores e ciências filosóficas superiores; as inferiores não se ‘preocupam’
em provar seus princípios, nem argumentam a favor de si, deixam isso para a
ciência superior, que o faz quando lhe cabe fazê-lo.
Portanto, Santo Tomás
define o que é filosofia é servir como instrumento da doutrina sagrada, de
fato, a filosofia tem sua plena realização com o alcance da verdade, e a
filosofia só pode alcançar tal coisa na medida em que se submete aos artigos de
fé.
[1] Trabalho entregue. Na Faculdade São Bento da Bahia, como obtenção parcial de nota do curso de Licenciatura em Filosofia. abril, 2012.
[2] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de
Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br,
acessado em: 11/03/2012. Q. 1, Artigo 1: Se, além das ciências filosóficas, é
necessário outra doutrina. Solução.
[3]
Ibidem. Art. 5: Se a Doutrina Sagrada é mais
digna que as outras ciências. Solução.
[4]
Ibidem. Art. 8: Se a Doutrina é argumentativa.
Resposta à segunda Objeção.
[5]
Ibidem. Art. 2: Se a doutrina Sagrada é
ciência. Solução.
[6]
Ibidem. Resposta á primeira Objeção.
[7]
Ibidem. Art. 3: Se a doutrina Sagrada é uma só
ciência. Objeção 1.
[8]
Ibidem. Objeção 2.
[9]
Ibidem. Art. 6: Se esta doutrina é sabedoria. Resposta à segunda Objeção.
[10]
Ibidem. Art. 7: Se Deus é o objeto desta
ciência. Objeção 1.
[11]
Ibidem. Solução.
[12]
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Volume I. 3ª Ed. Edições Loyola: São Paulo, 2001.
Resposta à primeira Objeção. Q. 1, Art. 7.
[13]
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br/,
acessado em: 11/03/2012. Solução. Q. 1, Artigo 8: Se esta doutrina é
argumentativa.
[14]
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br,
acessado em: 11/03/2012. Q. 1, Art 2. Solução.
[15]
Ibidem