terça-feira, 5 de junho de 2012

Filosofia em S. Tomás de Aquino


Flávia Olveira[1]


Para Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, questão um, que trata “do que é e do que abrange a doutrina sagrada”, as ciências
[...] filosóficas, [são] pesquisadas pela razão humana. [..., e que] o homem é por Deus ordenado a um fim que lhe excede a compreensão racional [..., e que esse] fim deve ser previamente conhecido pelos homens, [–] que para ele têm de ordenar as intenções e atos [..., –] por divina revelação, [..., para que se tornem] conhecidas certas verdades superiores à razão.[2]

Pois “[...] as outras [ciências, que não são a Doutrina Sagrada, têm suas conclusões] pelo lume natural da razão humana, que pode errar, e a possui esta [a Doutrina Sagrada] pela luz da ciência divina, que se não pode enganar. [...]” [3]. Coloca, também, como a filosofia é usada pela Doutrina Sagrada,
[...] importa que a razão humana preste serviços à fé, [...] a doutrina sagrada até lança mão da autoridade dos filósofos, nos assuntos em que pela razão natural puderam conhecer a verdade. [...] [4]

Ele acrescenta no artigo segundo, da primeira questão, que “há dois gêneros de ciências. Umas partem de princípios conhecidos à luz natural do intelecto, [...] outras provém de princípios conhecidos por ciência superior [...]” [5]. Também coloca que, “os princípios de qualquer ciência, ou são por si mesmos evidentes, ou se reduzem à evidência de alguma ciência superior [...]” [6] onde os princípios da filosofia provém da Doutrina Sagrada, e os princípios da Doutrina Sagrada provém da Revelação.
Ele acrescenta que, “[...] cada ciência se ocupa com um só gênero de objetos [...]” [7]; onde, que os assuntos tratados pela Doutrina Sagrada, são assuntos também tratados pelas ciências filosóficas, como está na Suma Teológica, onde Santo Tomás diz: “[...] a Doutrina Sagrada trata dos anjos, das criaturas corpóreas e dos costumes humanos, se bem tais assuntos respeitem a ciências filosóficas diversas. [...]” [8]
No artigo seis, da primeira questão, Santo Tomás fala do “[...] conhecimento próprio desta ciência [a filosofia] assenta [...] em premissas naturais. [...]” [9]. Fala também que, para se conhecer uma ciência “[...] é necessário, [...] supor a essência do objeto, [..., e que, o] objeto da ciência é o assunto nela principalmente tratado.” [10] Continua que, “[...] idêntico objeto têm os princípios e toda a ciência, por estar, a última [a filosofia], total e virtualmente, contida nos princípios. [...]” [11] Coloca que, “[...] em certas ciências filosóficas, se demonstram verdades relativas a uma causa a partir dos seus efeitos, assumindo o efeito em lugar da definição dessa causa.[12] E, acrescenta posteriormente sobre as ciências filosóficas:
Como as outras ciências não argumentam para provar os seus princípios, mas, com estes, raciocinam para demonstrar outros pontos, [...] cumpre, no entanto, considerar que as ciências filosóficas inferiores nem provam os seus princípios, nem disputam contra aqueles que os negam, mas isto deixam para a ciência superior. Porém, dentre elas, a suprema, a saber, a Metafísica, discute contra quem lhe nega os princípios, se o adversário concede algum ponto; mas, se nada concede, não se pode com ele discutir, bem que se lhe possam refutar as objeções. [...] [13]

Então, Para Santo Tomás de Aquino a filosofia é uma ciência baseada na razão humana, mas que, por conta dessa base ela é passível de erro, pois a razão humana é limitada, por isso se torna necessário, para se tornar uma ciência completa, a revelação, que não é passível de erro, pois a ciência de Deus não possui erro.  Para ele a razão humana tem que estar a serviço da fé, então necessita da existência da Doutrina Sagrada, que, por sua vez, se utiliza de argumentos da filosofia, não porque a Doutrina Sagrada está abaixo da filosofia, mas pelo fato da ciência de Deus ter uma linguagem que não é acessível a razão humana, se faz o uso da filosofia, como instrumento, para clarear as verdades de fé. De fato, para Santo Tomás, a razão humana alcança a verdade, mas não sem muito esforço e uma quantidade de erro ou de limitação. A razão humana, por exemplo, pode chegar à unidade de Deus, mas chega com equivoco e discordância entre os filósofos. Já aquele que submete a razão a doutrina sagrada, alcança a unidade de Deus pela razão, mas sabe que Ele é Uno e Trino. Acrescenta que, as ciências quando não “são por si mesmas evidentes” [14], então elas “se reduzem à evidencia de alguma ciência superior”. [15] Como já foi dito, os assuntos tratados pela Doutrina Sagrada, são assuntos também tratados pelas ciências filosóficas, e, tais assuntos são sobre os anjos, sobre as “criaturas corpóreas” e os costumes humanos. Onde as ciências filosóficas se assentam nas premissas naturais. Santo Tomás acrescenta que, numa divisão da filosofia há ciências filosóficas inferiores e ciências filosóficas superiores; as inferiores não se ‘preocupam’ em provar seus princípios, nem argumentam a favor de si, deixam isso para a ciência superior, que o faz quando lhe cabe fazê-lo.

Portanto, Santo Tomás define o que é filosofia é servir como instrumento da doutrina sagrada, de fato, a filosofia tem sua plena realização com o alcance da verdade, e a filosofia só pode alcançar tal coisa na medida em que se submete aos artigos de fé.



[1] Trabalho entregue. Na Faculdade São Bento da Bahia, como obtenção parcial de nota do curso de Licenciatura em Filosofia. abril, 2012.
[2] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br, acessado em: 11/03/2012. Q. 1, Artigo 1: Se, além das ciências filosóficas, é necessário outra doutrina. Solução.
[3] Ibidem. Art. 5: Se a Doutrina Sagrada é mais digna que as outras ciências. Solução.
[4] Ibidem. Art. 8: Se a Doutrina é argumentativa. Resposta à segunda Objeção.
[5] Ibidem. Art. 2: Se a doutrina Sagrada é ciência. Solução.
[6] Ibidem. Resposta á primeira Objeção.
[7] Ibidem. Art. 3: Se a doutrina Sagrada é uma só ciência. Objeção 1.
[8] Ibidem. Objeção 2.
[9] Ibidem. Art. 6: Se esta doutrina é sabedoria. Resposta à segunda Objeção.
[10] Ibidem. Art. 7: Se Deus é o objeto desta ciência. Objeção 1.
[11] Ibidem. Solução.
[12] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Volume I. 3ª Ed. Edições Loyola: São Paulo, 2001. Resposta à primeira Objeção. Q. 1, Art. 7.
[13] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br/, acessado em: 11/03/2012. Solução. Q. 1, Artigo 8: Se esta doutrina é argumentativa.
[14] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Correia in http://www.permanencia.org.br, acessado em: 11/03/2012. Q. 1, Art 2. Solução.
[15] Ibidem